Uma rajada de vento transporta o aroma da terra fresca e da relva húmida através da janela aberta do meu estúdio em Lviv. Estou sentado em frente a uma tela em branco, mas as cores já estão a dançar na minha cabeça: o azul profundo do Dnipro, o amarelo vivo dos campos de girassóis, o rosa suave do amanhecer sobre as montanhas dos Cárpatos. Na Ucrânia, a arte nunca é apenas um quadro - é um eco da paisagem, um espelho da alma, um protesto silencioso contra o esquecimento. Aqui, onde o Oriente e o Ocidente se encontram, onde a tradição e a modernidade se abraçam e se desafiam mutuamente, cada aguarela, cada esboço, cada fotografia é um pedaço de história vivida.
A arte ucraniana assemelha-se a um mosaico, composto por inúmeros fragmentos: Há o colorido expressivo de Mykola Pymonenko, cujas cenas rurais captam a vida das pessoas comuns com uma honestidade quase poética. As suas pinturas a óleo falam de festas e de trabalho no campo, de esperança e de melancolia - e fazem-no com uma franqueza que atinge o espetador em cheio no coração. Mas a arte da Ucrânia não se fica pelo idílico. Procura, questiona, contradiz. Nas obras de Maria Prymachenko, cujos guaches estão cheios de animais fantásticos e ornamentos luminosos, sente-se a força da arte popular, mas também a coragem da sua própria caligrafia. Os seus quadros, por mais ingénuos que possam parecer à primeira vista, são na realidade uma rebelião contra o confinamento, uma celebração da fantasia em tempos de controlo político.
Por vezes, um único quadro é suficiente para apreender toda uma época. A famosa "Canção dos Cossacos" de Serhij Vasylkivsky, por exemplo, uma aguarela que celebra a liberdade e o orgulho dos cossacos ucranianos, tornou-se um símbolo de identidade nacional e de resistência silenciosa ao domínio estrangeiro. Na agitação do século XX, quando a Ucrânia estava dividida entre as frentes da história, artistas como Oleksandr Bohomazov e Dawid Burliuk encontraram novas formas de expressão: As suas composições de vanguarda, muitas vezes sob a forma de gravuras ou colagens, romperam com as velhas formas de ver e procuraram uma linguagem para o inexprimível. A sociedade mudou e a arte também - tornou-se mais política, mais experimental, por vezes até mais desesperada.
Finalmente, a fotografia, este meio aparentemente objetivo, tornou-se um instrumento de recordação e de esperança na Ucrânia. As fotografias de Boris Mykhailov, que documentou a Kharkiv pós-soviética em toda a sua beleza crua, são mais do que meras imagens: São testemunhos de um país em transição, cheio de contradições e anseios. As suas fotografias reflectem a alma ucraniana - vulnerável, orgulhosa, inquebrável.
A arte ucraniana é um diálogo constante entre o ontem e o hoje, entre o indivíduo e a sociedade. Fala de sofrimento e de novos começos, de pátria e de terras estrangeiras, do poder inesgotável das imagens que dizem mais do que as palavras. Quem se envolve com esta arte descobre não apenas um país, mas todo um mundo de cores, formas e histórias - vivo, surpreendente e profundamente humano.
Uma rajada de vento transporta o aroma da terra fresca e da relva húmida através da janela aberta do meu estúdio em Lviv. Estou sentado em frente a uma tela em branco, mas as cores já estão a dançar na minha cabeça: o azul profundo do Dnipro, o amarelo vivo dos campos de girassóis, o rosa suave do amanhecer sobre as montanhas dos Cárpatos. Na Ucrânia, a arte nunca é apenas um quadro - é um eco da paisagem, um espelho da alma, um protesto silencioso contra o esquecimento. Aqui, onde o Oriente e o Ocidente se encontram, onde a tradição e a modernidade se abraçam e se desafiam mutuamente, cada aguarela, cada esboço, cada fotografia é um pedaço de história vivida.
A arte ucraniana assemelha-se a um mosaico, composto por inúmeros fragmentos: Há o colorido expressivo de Mykola Pymonenko, cujas cenas rurais captam a vida das pessoas comuns com uma honestidade quase poética. As suas pinturas a óleo falam de festas e de trabalho no campo, de esperança e de melancolia - e fazem-no com uma franqueza que atinge o espetador em cheio no coração. Mas a arte da Ucrânia não se fica pelo idílico. Procura, questiona, contradiz. Nas obras de Maria Prymachenko, cujos guaches estão cheios de animais fantásticos e ornamentos luminosos, sente-se a força da arte popular, mas também a coragem da sua própria caligrafia. Os seus quadros, por mais ingénuos que possam parecer à primeira vista, são na realidade uma rebelião contra o confinamento, uma celebração da fantasia em tempos de controlo político.
Por vezes, um único quadro é suficiente para apreender toda uma época. A famosa "Canção dos Cossacos" de Serhij Vasylkivsky, por exemplo, uma aguarela que celebra a liberdade e o orgulho dos cossacos ucranianos, tornou-se um símbolo de identidade nacional e de resistência silenciosa ao domínio estrangeiro. Na agitação do século XX, quando a Ucrânia estava dividida entre as frentes da história, artistas como Oleksandr Bohomazov e Dawid Burliuk encontraram novas formas de expressão: As suas composições de vanguarda, muitas vezes sob a forma de gravuras ou colagens, romperam com as velhas formas de ver e procuraram uma linguagem para o inexprimível. A sociedade mudou e a arte também - tornou-se mais política, mais experimental, por vezes até mais desesperada.
Finalmente, a fotografia, este meio aparentemente objetivo, tornou-se um instrumento de recordação e de esperança na Ucrânia. As fotografias de Boris Mykhailov, que documentou a Kharkiv pós-soviética em toda a sua beleza crua, são mais do que meras imagens: São testemunhos de um país em transição, cheio de contradições e anseios. As suas fotografias reflectem a alma ucraniana - vulnerável, orgulhosa, inquebrável.
A arte ucraniana é um diálogo constante entre o ontem e o hoje, entre o indivíduo e a sociedade. Fala de sofrimento e de novos começos, de pátria e de terras estrangeiras, do poder inesgotável das imagens que dizem mais do que as palavras. Quem se envolve com esta arte descobre não apenas um país, mas todo um mundo de cores, formas e histórias - vivo, surpreendente e profundamente humano.